Edição 299
A escuta como ferramenta de transformação do Judiciário
11 de julho de 2025
Frederico Mendes Júnior Presidente da AMB

Marcado por desafios crescentes, o cenário jurídico contemporâneo levou a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a lançar iniciativa pioneira, cujos resultados já impactam positivamente o Poder Judiciário: os Diálogos da Magistratura – programa que organiza encontros presenciais entre o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, e juízes de todas as instâncias, ramos e regiões do país.
Embora simples, a dinâmica revelou-se revolucionária: em um ambiente de escuta ativa, o ministro Barroso apresenta os principais projetos de sua gestão e ouve, de viva voz, face a face, críticas e sugestões dos magistrados. Entre os temas frequentes, há o combate à litigiosidade predatória, o uso da tecnologia no exercício da função e os problemas que impedem a efetividade da jurisdição nos grandes centros urbanos e nas pequenas cidades do interior.
Realizados nas capitais, os Diálogos da Magistratura alcançaram diversas unidades da Federação, com participação expressiva em todas as ocasiões. O valor do projeto transcende o ganho simbólico na medida em que o CNJ e o STF recebem dados fundamentais para estruturar políticas públicas e avanços na gestão processual. Em contrapartida, os juízes ganham legitimidade, visibilidade e a certeza de que suas vozes contam para a transformação do Judiciário.
E não só: tal modelo transborda para a sociedade, que passa a perceber um Judiciário cada vez mais aberto à transparência e ao aprimoramento coletivo. Nesse momento em que os tribunais se deparam com êxodos de profissionais, perigos cotidianos e tensões constantes, a construção de consensos reforça a credibilidade essencial à prestação jurisdicional.
Ao aproximar a cúpula do Judiciário das realidades vividas na base, a empreitada corrige distanciamento histórico. Não se trata apenas de ouvir, mas de incorporar a conversação franca como critério de ação, com a AMB consolidando-se como ponte para as decisões que moldarão o futuro da magistratura.
Além de fomentar o aperfeiçoamento institucional, a parceria tem gerado outro efeito relevante: o fortalecimento do sentimento de pertencimento entre os magistrados. Em tempos de sobrecarga, insegurança e crescente judicialização de conflitos sociais e políticos, a abertura de canais de comunicação com a instância máxima do Judiciário é, por si só, fator de valorização e motivação.
Essa lógica de interlocução permanente orienta, também, outras frentes de atuação da AMB, como os esforços contra a desjudicialização excessiva, a defesa da magistratura como atividade de risco e o enfrentamento à precarização das condições de trabalho.
Os Diálogos da Magistratura representam uma experiência de vanguarda: um marco cultural que coloca a escuta em primeiro plano, propicia a interação horizontal e firma posicionamentos a partir da contribuição direta dos homens e mulheres que, todos os dias, nas localidades mais distantes, superam os gargalos do sistema para promover a distribuição de justiça.
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