Ordem e Progresso

5 de agosto de 2003

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Os meus leitores são testemunhas da imensa fé que tenho neste país. Vem crise, vai crise, estou sempre trabalhando, por acreditar que o Brasil pode ocupar um lugar de destaque no cenário mundial e tratar melhor o seu povo.

Infelizmente, os últimos acontecimentos prestaram um grande desserviço a nação. Em poucos dias, fizeram o Brasil perder a confiança duramente acumulada em seis meses. Refiro-me ao desrespeito a propriedade privada no caso das invasões e ocupações; a atitude de alguns membros do governo que instigaram ações judiciais contra contratos sacramentados, e ao conluio de certos parlamentares com corporações conhecidas que, em lugar de colaborar para a justiça social e para o equilíbrio das contas da Previdência Social, pensam apenas nas próximas eleições e em preservar os seus privilégios.

Foram três golpes fortíssimos. Um verdadeiro massacre na nossa credibilidade. Um que sobraram muitos investidores dispostos a colocar seu dinheiro em um país onde não se respeita a ordem jurídica e se sinaliza a insolvência das contas públicas?

Penso que não. É, no entanto, o Brasil precisa desesperadamente de recursos (nacionais e internacionais) para construir sua infra-estrutura e, com base nisso, crescer e gerar empregos.

Não gostaria de pensar assim, mas foi um desastre. Quanto tempo vamos levar para reconquistar a credibilidade com aqueles que já estavam confiando desconfiando?

O estrago foi feito em cinco dias o conserto levara anos. E não foi feito por gente de fora. Nem foi instigado pelas forças do mal, do FMI, da OMC, do Banco Mundial ou do protecionismo europeu. Tudo foi fruto do destempero de brasileiros que não medem as conseqüências do que dizem e do que fazem numa hora em que o Brasil precisa se tornar uma atração mundial para investimentos produtivos.

A captação desse tipo de recurso já estava fraca. No primeiro semestre de 2003 o Brasil atraiu apenas US$ 3,5 bilhões, contra os US$ 7 bilhões que entraram no mesmo período de 2002 _ o que já havia sido muito pouco. Os mais otimistas estavam estimando uma captação de US$ 8 bilhões para o ano todo. Com os ataques da semana passada a credibilidade, talvez cheguemos a uns US$ 6 bilhões. Isso não é nada! O Brasil precisa de, pelo menos, US$ 20 bilhões. Só a rolagem do endividamento externo consumira cerca de US$ 28 bilhões! De onde vira esse dinheiro? Quem vai nos ajudar? Vamos recorrer outra vez ao FMI? Mais divida?

Foi uma pena. Oxalá se aprenda a lição. É preciso ficar claro que desrespeito a propriedade, à ordem jurídica e ao compromisso de saneamento fiscal não se da impunemente. O Wall Street Journal estampou isso na primeira pagina da sua edição de 10/7 e certamente foi lido por milhares de investidores, causando-lhes um profundo desconforto, o que, no terreno domestico, vai alimentar a recessão, o desemprego, a informalidade e a dilaceração do tecido social.

Enfim, vamos passar uma borracha no ocorrido e tocar o carro para a frente, porque a caminhada ficou mais longa. Que isso não se repita.