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O Exército Brasileiro e seu processo de transformação

11 de janeiro de 2013

Enzo Martins Peri Comandante do Exército Brasileiro

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Antecedentes

A realidade e o ritmo das transformações políticas, econômicas, sociais e tecnológicas que se projetam sobre o mundo contemporâneo, desde o final do século XX, geraram demandas diversificadas e urgentes sobre todas as estruturas organizacionais, especialmente no caso das instituições permanentes das estruturas dos Estados, que chegaram a ter sua própria existência questionada.

Nesse cenário, o Exército Brasileiro, como outras instituições nacionais, passou a perceber a necessidade de adotar políticas que provocassem mudanças organizacionais capazes de criar as condições para responder adequadamente à evolução das conjunturas nacional e internacional. Tornou-se impositivo continuar atendendo às demandas do Estado e da sociedade, ao mesmo tempo em que se preparava a Força Terrestre para atuar no ambiente futuro de crescente incerteza e cada vez mais desafiador.

Ao longo das duas últimas décadas as diversas administrações do Comando do Exército procuraram, com persistência, estabelecer parâmetros político-estratégicos que delimitassem o caminho a seguir para toda a Instituição. Tratou-se de um processo de construção de soluções cujos principais resultados ficaram materializados pelos esforços associados aos projetos “FT 90”, concentrado sobre capacidades operacionais militares, e “Programa de Excelência Gerencial”, focado na disseminação de conceitos avançados de gestão.

A etapa subsequente foi impulsionada pela renovação do interesse político do Estado sobre os temas de defesa, caracterizada pela elaboração e repercussão da Estratégia Nacional de Defesa (END), lançada em dezembro de 2008. Para o Exército, este fato desencadeou um esforço de planejamento concentrado, denominado Estratégia Braço Forte (EBF), com a finalidade de traduzir em medidas efetivas as diretrizes e propostas explicitadas na END.

Contudo, passados seis meses da conclusão dos trabalhos da EBF, avaliações críticas conduzidas pelo Estado-Maior do Exército (EME) concluíram que seria necessário aprofundar o processo de implantação das mudanças visualizadas. Após aprofundados estudos, chegou-se a conclusão que essa nova percepção somente poderia ser concretizada por meio de um sistemático e profundo processo de mudança denominado “Processo de Transformação”, a exemplo do que já ocorria com outras forças militares no mundo.

Transformação e o Projeto de Força

O cenário, portanto, exigia disposição e ação institucionais, aí incluído o desenvolvimento de novas capacidades necessárias para respaldar a atuação do Brasil como ator global. Ao Exército, cabia realizar as mudanças necessárias, passando por um processo de longo prazo, amplo, profundo e urgente. Assim, passou a ser política da Força manter-se em permanente “Processo de Transformação”.

Depois de colher subsídios por meio de pesquisas, palestras, brainstorms, painéis, debates e seminários, contando com um amplo conjunto de fontes, incluindo militares da ativa e da reserva, oficiais de nações amigas, civis e especialistas em diversos setores, o EME propôs que o “Processo de Transformação” fosse conduzido por intermédio de um projeto de longo prazo (2031) denominado “Projeto de Força (PROFORÇA)”, que orientaria o “Processo de Transformação”, por meio dos seguintes projetos Vetores de Transformação (VT): Recursos Humanos; Educação e Cultura; Ciência e Tecnologia; Doutrina; Engenharia; Gestão; Logística; Preparo e Emprego; e Orçamento e Finanças.

Sintetizando as orientações do PROFORÇA, foram elencadas as novas capacidades que deveriam caracterizar o Exército transformado: ênfase na dimensão humana; dissuasão extrarregional; projeção de poder; atuação no espaço cibernético; prontidão logística; efetividade da doutrina; gestão integrada; interoperabilidade e complementaridade; fluxo orçamentário adequado; produtos de defesa vinculados às capacidades operacionais; e gestão da informação operacional.

Uma nova Concepção Estratégica – EB 2022

Para conduzir o Exército para a era do conhecimento, tornou-se imperativo ousar nas ideias, gerando energia criativa em soluções inovadoras e factíveis, sem contudo distanciar-se da realidade e do compromisso indissolúvel da Força com a sociedade a quem serve. Para tanto, foi fundamental a elaboração, execução e controle de um criterioso e coerente “Planejamento Estratégico”, tendo como horizontes temporais 2015 e 2022, atuando como coordenador do trabalho coeso de militares e civis identificados com os valores da instituição.

Ao final do ano de 2011, o acompanhamento das ações do “Processo de Transformação” permitiu concluir que, devido às dimensões da estrutura organizacional do Exército e o ritmo cotidiano de trabalho, havia a necessidade de manter alinhados os VTs, por meio de novos objetivos estratégicos, alinhados com a missão e uma nova visão de futuro da Força.

Dentre outras ações previstas na nova “Concepção Estratégica” destacam-se: busca pela dissuasão extrarregional, ampliando significativamente a capacidade operacional do Exército; ênfase na cooperação regional, aproximando-nos dos exércitos dos países vizinhos; prioridade da dimensão humana, como conjunto de medidas focadas na atração e retenção de recursos humanos qualificados e motivados; disseminação da consciência situacional até o nível do sistema combatente individual; incremento da flexibilidade, adaptabilidade, modularidade e elasticidade no emprego dos escalões operacionais; e centralização seletiva dos apoios às operações.

Projetos Estratégicos do Exército

Dentro da metodologia de trabalho do Sistema de Planejamento do Exército, estudos e análises posteriores indicaram a oportunidade de organizar em projetos indutores do “Processo de Transformação da Força”, com a criação do “Escritório de Projetos do Exército”, e a estruturação de sete Projetos Estratégicos: Recuperação da Capacidade Operacional (RECOP); Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON); Defesa Cibernética; Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres (PROTEGER); Nova Família de Blindados de Rodas – GUARANI; Defesa Antiaérea; e Sistema de Mísseis e Foguetes ASTROS 2020.

O Exército Brasileiro encontra-se responsável pela coordenação do Setor Cibernético, considerado pela Estratégia Nacional de Defesa, como um dos setores estratégicos essenciais para a defesa nacional.

Dimensão Humana – “A Força da nossa Força”

A importância do papel do Exército Brasileiro para a segurança e defesa do Estado e da sociedade, atribui à qualidade dos recursos humanos da Instituição um caráter determinante no êxito do cumprimento das missões constitucionais, na credibilidade e na percepção de relevância que a Organização deve transmitir à sociedade.

Para tanto, o Exército realizará seu “Processo de Transformação” focado na dimensão humana, entendida como o conjunto de todos os fatores, geridos pela Instituição, que influencia o profissional militar – do ambiente de trabalho a seus familiares.

Conclusão

O Exército Brasileiro, uma Instituição com aproxi­madamente duzentos mil homens e mulheres, civis e militares, distribuídos em todo o território nacional e no exterior, empregados cotidianamente em dezenas de operações de apoio ao Estado e à sociedade, mais uma vez protagoniza na condução de um processo de evolução que o colocará na Era do Conhecimento, respaldando as decisões do Brasil – ator global.

Só é possível conduzir um empreendimento dessa magnitude com o apoio e a efetiva participação de equipes capacitadas e motivadas. Para a felicidade do Exército e da Nação, este é justamente o “ponto forte” diferenciador de nossa Instituição, que conta com pessoas capazes e entusiasmadas em todos os níveis, comprometidas com a consecução dos objetivos estratégicos que estarão efetivamente transformando o Exército Brasileiro.