Joaquim Barbosa e Lázaro Brandão destacam-se em premiação da ACRJ

17 de outubro de 2013

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Premio ACRJA Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), em concorrida festividade em sua sede, recepcionou e homenageou as personalidades do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Joaquim Barbosa, e o presidente do Conselho Administrativo do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, com a 2ª edição do Prêmio Presidente José Alencar de Ética, nas categorias Gestão Pública e Gestão Empresarial. Os homenageados foram unânimes ao afirmarem que a ética e a justiça são essenciais para que haja um ambiente de confiança e respeito entre todos os segmentos sociais, capaz de promover a prosperidade e o bem-estar da sociedade.

No discurso de abertura, o presidente da ACRJ, Antenor Barros Leal, pontuou os principais objetivos e o compromisso da Casa de Mauá com a liberdade absoluta e com os resultados das empresas, destacando a educação como vetor único para o verdadeiro desenvolvimento nacional, acrescentando que só com a educação tornaremos nosso país mais digno para os habitantes, ressaltando que os homenageados têm grande responsabilidade para com esses objetivos.

Além dos troféus entregues pelo presidente da ACRJ, os dois receberam a Medalha Bicentenário de Nascimento do Visconde de Mauá, entregue ao Ministro Barbosa pelo Desembargador Marcus Faver, presidente do Colégio dos Presidentes dos Tribunais de Justiça, e a Lázaro de Mello Brandão pelo presidente do Conselho Superior da ACRJ, Humberto Mota.

O Ministro Joaquim Barbosa agradeceu a premiação dizendo-se honrado por ter sido escolhido pela ACRJ, ressaltando que a magistratura é um serviço público que deve ser realizado com ética no exercício da função jurisdicional e na gestão dos tribunais. Para o ministro, a integridade e a conduta ética conseguem manter vivas as pessoas e o seu legado ao longo do tempo. “Esse é um exemplo a ser seguido por todas as instituições que pretendem construir um legado e por todos aqueles que almejam ser lembrados como participantes da riqueza e do crescimento deste nosso grande país.”

Joaquim Barbosa destacou, também, a importância de representantes do poder público, da sociedade civil e do terceiro setor unirem forças para que se possam melhorar as condições de vida dos cidadãos brasileiros. “Para fazer um Brasil melhor para os que aqui vivem e trabalham, precisamos nos imbuir de um sentimento constitucional, onde todos nós, agentes públicos, empresários e sociedade civil, estejamos unidos para o bem comum do nosso país e em perfeita sintonia com os princípios fundamentais da nossa ordem constitucional.”

O presidente do Conselho Administrativo da Organização Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, lembrou com alegria o nome de José Alencar, que constitui uma “soberba lembrança da veneranda Casa de Mauá por legitimar a figura desse brasileiro que honrou passagem entre nós com denodo e patriotismo. Agradeço sensibilizado a escolha de meu nome para receber esse prêmio. Principalmente por compartilhá-lo, na categoria gestão pública, com esse ilustre homem que é o presidente Joaquim Barbosa.”
Lázaro Brandão entrou no Bradesco, então Casa Bancária Almeida & Cia., de Marília, interior de São Paulo, em 1942, como escriturário. Sua vida nestes 73 anos confunde-se com a do próprio Bradesco. Foi funcionário do setor de contas-correntes, tornou-se gerente e, ao ser promovido a diretor, passou a responder pelas agências. Seu trabalho pavimentou seu caminho para a vice-presidência, em 1980, e, apenas um ano depois, foi escolhido para a presidência.

Desde a criação do maior banco privado do Brasil, a estratégia definida inicialmente por Amador Aguiar não se alterou ao longo das últimas décadas de batente. “O sucesso do Bradesco deve-se ao fato de que nos mantivemos fiéis a nossos princípios e não mudamos nossa filosofia de trabalho”, avaliou Brandão.

O presidente do Conselho Superior, Humberto Mota, fez a saudação ao presidente Lázaro Brandão. Segundo Mota, “honradez, lealdade, sentimento público, probidade, ética, coragem, bondade e otimismo são marcas desse grande brasileiro, que hoje, com 87 anos, preside o Conselho de Administração do Bradesco com maestria e muita dedicação.”
A saudação do Ministro Joaquim Barbosa ficou por conta do Desembargador Marcus Faver. Para ele, Barbosa é um jurista de pensamento interdisciplinar, que preza pelos valores da justiça cidadã, da ética e da democracia. Faver traçou um perfil do presidente do STF: “Joaquim Barbosa respirou os ares democráticos e ideológicos da Universidade de Paris. Não continuou a remoer as ofensa recebidas, a alimentar o ódio, a reabrir feridas. Jamais é ele quem abre fogo; e se os outros o abrem, não se deixa queimar, mesmo quando não consegue apagá-lo. Atravessa o fogo sem se queimar, a tempestade dos sentimentos sem se alterar, mantendo os próprios critérios, a própria compostura, a própria disponibilidade.”

Trechos do discurso proferido pelo Desembargador Marcus Faver em homenagem ao Ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF, ao receber o prêmio na categoria Gestão Pública
“A missão, altamente honrosa, de saudar o Ministro Joaquim Benedito Barbosa Gomes, presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, faz-me reviver, por similitudes, aspectos singulares, imagens e símbolos passagem da minha juventude, vivida no interior deste Estado, na divisa com Minas Gerais.

Nos umbrais do colégio onde estudei, uma frase em latim gravada em mármore negro despertava atenção – dizia: ‘Quod bonum Miracema sit.’

Na praça principal, em pedestal granítico, uma águia estilizada presa a grossas correntes simbolizava a luta de sua gente humilde e dos estudantes, sonhadores em obter um lugar ao sol numa sociedade, às vezes, injusta. Um pequeno poema incrustado no granito dizia:

Miracema, água cativa
Que sofre o martírio
De todos aqueles que tendo asas nos ombros
Têm grilhões nos pés.

Na pequenina cidade, bem semelhante a Paracatu, numa colina central, situa-se a igreja que todos frequentavam. Um imponente carrilhão ao topo do campanário. Acostumados estávamos todos nós, seus habitantes, aos diversos sons dos sinos da matriz. Tocavam as horas; o chamamento para as missas; o planger àqueles que morriam; a alegria da ressurreição, etc. Cada acontecimento possuía um badalar diferenciado que todos conheciam. Hora da missa… morreu alguém… sabia-se pelo som que espraiava-se pela cidade!

Era exatamente esse, por coincidência, sem tirar nem pôr, o cenário descrito pelo grande José Saramago, escritor português que tanto estimava o nosso país e que no encerramento do Fórum Social Mundial de 2002, em Porto Alegre, assim se pronunciou:
Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregues cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI), os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza. Porém, aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento.
Saíram, portanto, as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mestres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar.
O sino ainda tocou por alguns minutos mais; finalmente calou-se. Instantes depois, a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. ‘O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino’, foi a resposta do camponês. ‘Mas então não morreu ninguém?’, tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: ‘Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta’.
Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à proteção da justiça. Tudo sem resultado, a espoliação continuou.
Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exato tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem exceção, o acompanhariam o dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela ‘fosse ressuscitada’. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido…
Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo…
Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre de aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça.
Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que seu toque a rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais, e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia.”

Eis que surge um sineiro de Paracatu que, rompendo os grilhões que prendiam a águia cativa, voa pelo mundo, alcança o espaço, pós-gradua-se em Paris, em mestre e doutor, e vem com determinação tocar os sinos da ressurreição da Justiça no nosso país.

Não é um sineiro comum, mas um jurista de pensamento interdisciplinar, que bate os sinos da Justiça cidadã, da ética e da democracia.

Aqui, hoje, tocam os sinos que, na palavra de Saramago,

(…) defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objetivamente tem sido.
Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e ação social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protetora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações.
Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aqueles trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença.

Que os sons dos sinos daqui emanados anunciem o lúgubre funeral da corrupção em nosso país, mas que também, ao lado da Igreja da Candelária, no coração do Brasil, toquem os carrilhões prenunciando a ressurreição da Justiça no Brasil.

Quod bonum Brasília sit.”