A Educação além dos números

5 de novembro de 2005

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A percepção da importância da educação no fortalecimento de toda e qualquer nação há muito faz parte do cotidiano das reflexões sociais, encontrando-se presente nos planos de governos, nas dissertações e teses das áreas respectivas e, principalmente, no senso comum da população.

Objetivando o futuro-presente e centrando nossas observações nas lições do passado, cujos frutos hoje colhemos, podemos dividir a abordagem desta reflexão em duas dimensões: a primeira, relacionada à anatomia do problema, com uma rápida incursão nos números estatísticos, e a segunda, focada na fisiologia, com âncoras vinculadas ao aspecto da percepção qualitativa.

No campo quantitativo lembramos o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2004 (publicado para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD), que atribui ao Brasil um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que o posiciona na 72ª colocação entre os 177 territórios apresentados. O IDH serve como ponto de medida da qualidade de vida de um país, analisando educação, saúde e renda das pessoas. Desta forma, nosso país mantém-se na parte superior do grupo dos países com desenvolvimento humano médio.

Ressaltamos que a educação vem sendo a dimensão em que o Brasil tem seu melhor desempenho, com uma marca superior à média latino-americana e, de forma interessante, proporcionalmente mais próxima dos valores dos países desenvolvidos. Por exemplo, a taxa de alfabetização informada pelo governo brasileiro indica que a tendência de queda no analfabetismo manteve-se no decorrer dos anos. Se considerássemos apenas a dimensão educação, o Brasil ficaria em posição bem acima da que ocupa no geral. Já no que se refere ao subíndice de renda, outra dimensão de nosso interesse, o país aparece igual à média mundial e ligeiramente superior ao da América Latina.

Focando a atenção no ensino superior, encontramos significativa expansão neste segmento, fato que, contudo, não deve ser considerado como realização plena. Apesar de todo o esforço de ampliação, estamos muito aquém de nossas necessidades. Deveríamos observar exemplos no mundo moderno, como o da Coréia do Sul, que vem apresentando resultados dignos de elogios, o que demonstra uma postura muito mais sensata do que visionária, tendo em vista tudo o que já se sabe quanto à importância da educação. Na Coréia, reflexo desta ação na área da Educação e de outras mais, as exportações alcançaram em 2000 quase três vezes mais que o Brasil.

Sem sentido escatológico, mas apenas transcendendo à simplicidade numérica e retomando o foco da reflexão à funcionalidade do sistema, nos remetemos aos questionamentos e anseios populares: porque, afinal, com mais escolas e tecnologia, mais renda e investimento, ainda temos tantas desigualdades? Porque, apesar do relativo crescimento, perceptível nos indicadores, o desemprego assusta tanto?

Permitindo-nos um breve retorno aos índices, nos deparamos com interessante paradoxo: em comparação à sua classificação geral, na dimensão renda o país encontra-se várias posições acima da que ocupa no ranking do IDH geral, diferença de colocação que percebemos como uma inequívoca dificuldade do Brasil em transformar sua riqueza em bem estar para a população. Atestamos este fato ao nos depararmos com outra dimensão de análise, a esperança de vida ao nascer do brasileiro, onde ocupamos posição muito inferior àquela que ocupamos pelo IDH geral.

Não é a toa que em várias passagens ao longo dos últimos relatórios o Brasil vem sendo citado como paradigma de iniqüidade. Enquanto nos aproximamos mais dos países ricos na dimensão educação, ficamos ainda mais distantes na dimensão renda. O país não tem conseguido resolver suas desigualdades, continua sendo um país de médio desenvolvimento humano, encontrando-se atrás, por exemplo, da Argentina, Chile, Uruguai, México e Cuba.

De uma forma em geral, apesar de todos os esforços, é ainda alta a desistência escolar e, sem dúvida alguma, o rendimento fica aquém do desejado.

Emerge, enfim, a realidade de que a questão passe, sempre, pelos aspectos qualitativos. Certamente vivemos uma crise de qualidade. É inegável o grande valor da criança e do jovem na escola, e não nas ruas. Mas tão ou mais importante do que um aluno a mais nos bancos escolares, é o cidadão que preparamos para a vida.

Educação é o que precisamos. Educação com qualidade é o que não podemos prescindir.