Voto Pensado

5 de novembro de 2004

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As últimas eleições municipais mostraram não haver partido hegemônico no Brasil. Já foi o tempo (1986) em que um só partido, o PMDB, conseguiu eleger a esmagadora maioria dos governadores, na base de uma ardilosa promessa de congelamento de preços.

Nas últimas eleições, os brasileiros distribuíram seus votos por vários partidos. Para muitos, a recondução do PSDB aos governos municipais foi surpreendente, pois não esperavam que um partido que mal começou a exercitar seus músculos na oposição pudesse suplantar a massificante propaganda governamental e ganhar tantas prefeituras importantes.

Não sou político. Sou um mero eleitor que gosta de votar e continua votando. E, como tal, converso muito e leio o que posso para tentar compreender os eleitores.

Dentro das minhas limitações, penso que, na eleição presidencial de 2002, o povo estava querendo mudar, pois o governo da época terminava um duplo mandato de oito anos, nos quais uma oposição radical bloqueou importantes reformas.

Nas eleições municipais de 2004 senti a mesma coisa, mas com uma diferença. O desencanto em relação ao governo federal chegou muito cedo, em menos de dois anos, antes da metade do mandato.

Qual seria a causa dessa decepção? Creio ter sido a constatação pragmática da falta de mudança nas condições concretas da vida de cada um. Numa palavra, objetividade.

É um bom sinal. Traduz amadurecimento. Ademais, desmistifica o chamado poder mágico dos marqueteiros, muitos dos quais, na última campanha, chegaram e afirmaram: ”rejeição a gente tira na campanha”; ”nada resiste a uma boa propaganda”; ”o importante é capturar o coração do eleitor”; ”’votar é um ato emocional”.

Embora reconheça os componentes afetivos do comportamento eleitoral, penso que os eleitores começam a votar em quem lhes parece garantir uma vida com um mínimo de dignidade para si e seus familiares. No caso de São Paulo, José Serra sintetizou essa busca numa frase simples: ”Foi a vitória da confiança contra o medo”. Aliás, é a segunda vez que a estratégia do medo falha entre nós.

E o caso dos Estados Unidos? Não foi a vitória do medo? Em termos. Nunca os americanos estiveram tão divididos nas candidaturas e tão unidos nas aspirações. O que eles buscavam era a garantia de condições de vida melhores do que as atuais, incluindo-se na lista o respeito aos valores da família, a segurança contra o terrorismo, a ampliação do emprego, a melhoria da saúde, educação e previdência social.

Não sou analista político. Mas, no caso do Brasil, torço para a consolidação da temporada na qual os eleitores demonstraram querer dos governantes mais ação e menos falação, mais realização e menos exibição, mais responsabilidade (fiscal) e menos demagogia (eleitoral). Oxalá esse quadro se firme para afastarmos de uma vez a nefasta propaganda enganosa que sempre atuou como ópio entre os menos avisados. Só isso é uma grande vitória!