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Uma decolagem para o futuro

28 de fevereiro de 2006

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No início da década dos 1940, Stephan Zweig escreveu um livro “Brasil, o País do Futuro”, de grande repercussão na época. Esperávamos, então, que o futuro, preconizado pelo autor, estaria próximo. Que, seria possível que, talvez por obra de algum anjo divino, o Brasil encontraria o caminho da prosperidade e se desenvolvesse rapidamente.  Os anos se passaram, em seqüência de crises e de dificuldades. Chegamos a um novo Século e, importante, a um novo Milênio, com a população brasileira registrando nas últimas décadas mais de vinte anos sem grandes progressos econômicos. Claramente, não intencionalmente, acredito, temos vivido, ou sobrevivido, sob o descompasso entre as demandas produzidas pelos índices de crescimento populacional e as necessidades sociais. Lamentavelmente permanecemos atrelados ao estigma do subdesenvolvimento, em que pesem algumas notáveis exceções, justamente para demonstrar que somos um povo capaz.

Daqui para a frente os prezados leitores vão me permitir escrever mais como cidadão e como simples engenheiro aeronáutico. Assim, com relativa impunidade, fazer alguns comentários sobre  desempenho econômico da nossa nação o qual, e de longe, tem estado abaixo do mínimo indispensável para um contingente de quase 200 milhões de habitantes, vivendo numa área de aproximadamente 8,5 quilômetros quadrados de área, ou seja, num dos maiores países do mundo geograficamente falando e certamente um dos mais promissores.

Em 1994, nossas autoridades maiores conceberam uma idéia realmente valiosa: o Plano Real, magistralmente orquestrado e brilhantemente implantado. Foi proclamado que, afastado o iníquo imposto de uma inflação vergonhosa, cerca de trinta por cento da população saltaria para a esfera dos cidadãos, isto é, passariam a produzir, a ganhar e consumir. Entretanto, a partir do momento no qual isto se tornou realidade e a demanda começou a mostrar os primeiros números do crescimento, vozes antigas, sob o pretexto do perigo de retorno aos detestados índices de inflação do passado, preconizaram e conseguiram implementar medidas de restrições econômicas que nos lançaram novamente no mar da recessão e da estagnação. E assim, diante de uma extraordinária perspectiva de mudanças, voltamos ao passado, onde estamos desde então.

Nasceu um novo milênio que no seu primeiro ano mostrou-se difícil, com crises aqui e acolá, inclusive com algo que jamais se pensou no passado. O uso dos pacíficos aviões comerciais como armas do terror, como mísseis e ceifando vidas inocentes, desencadeando uma crise sem precedentes, atingindo praticamente todos os países e todos os setores econômicos. Tudo isto é ruim, claro que sim! Mas não devemos nos permitir, novamente, sucumbir aos tradicionais maus costumes de, achando que outros estão em dificuldades, também teríamos direito e justificativas para nos afastarmos da trilha do crescimento e do sucesso.

O que fazer?

“Por que algumas nações são bem sucedidas e outras falham na competição internacional e no seu processo de desenvolvimento” – pergunta Michael E. Porter, no primeiro capítulo do seu extraordinário livro “Vantagens Competitivas das Nações”, publicado em 1990. Ele continua e acentua: “A busca de explicações convincentes para a prosperidade das empresas e dos países precisa se iniciar fazendo as perguntas corretas.” E, elas, no caso do Brasil, quais seriam?

Comecemos colocando que a cultura nacional deveria se basear no princípio fundamental de que o principal objetivo das nações deve ser o de proporcionar crescentes e altos padrões de vida aos seus cidadãos. As condições para conseguir isto passa pela produtividade global, definida como o valor da produção conseguido pela unidade de trabalho e/ou de capital, a qual, por sua vez, depende  da criatividade, da eficiência e da qualidade dos meios produtivos e do gerenciamento nacional, governamental ou privado.

Admitir a participação da população que ainda não se deu, nem se dá, conta de que ela própria pode ter expressiva influência nestas metas, cobrando resultados da classe política, dentro do contexto da nossa crescente democracia. Não querendo ser injusto com o bom povo brasileiro, creio que muitos pais e avós já se cansaram com as perguntas dos filhos e netos: “Como arranjo um emprego?”. A resposta fundamental está numa outra pergunta: “Por que não crescemos e o que nos impede?”. Esta última deveria martelar continuamente nossas cabeças.

Nos momentos atuais, aproveitando o ensejo dos novos Século e Milênio, proponho começar com a identificação e o apoio às novas idéias. Buscar fugir de estereótipos do passado que, sabemos, não funcionaram. Olhando à frente – novamente falando o engenheiro aeronáutico – vem a luta, já ganha por outras populações, de colocar como prioridade nacional o crescimento econômico e trabalhar duramente para que ele se torne realidade. Afastarmo-nos do manejo das variáveis econômicas sob a ótica única dos interesses financeiros. Taxas de juros, acesso ao crédito, política tributária, leis e regulamentos etc, além de visar o equilíbrio das contas públicas, deveriam estar a serviço da política do desenvolvimento econômico da nação, claramente explicitada e sujeita ao crivo e ao debate da sociedade, em particular a produtiva.

Buscar o fortalecimento das instituições públicas e privadas como elementos permanentes para o crescimento de nossa maturidade e consistência políticas, tudo voltado para os objetivos fundamentais da educação e do bem-estar geral, priorizando a eficiência e a qualidade dos serviços públicos e da infra-estrutura nacional.

Lembrar que a competição mundial hoje ocorre entre países e não mais somente entre empresas ou organizações. Assim, a competitividade nacional deve ganhar foros de política permanente, sob uma ótica de prioridade maior para nos transformar em ganhadores e superavitários permanentes no comércio internacional, além de fortalecer o mercado interno através do aumento da riqueza individual e coletiva.

A cultura e os valores nacionais, incutidos nos programas educacionais desde os primeiros tempos da vida de cada cidadão, deveriam se constituir  elementos básicos para a consolidação da nacionalidade e do nosso perfil como povo e como cidadãos, cuja posição no panorama político deveria ser enfatizado

Em resumo, precisamos buscar novos paradigmas de comportamento, de decisão, de participação e tentar compreender, com humildade, que o mundo mudou. Precisamos aceitar que nem tudo o que se fez ou se fazia no passado poderá ter sucesso no futuro. Enfim, a proposta é de mudanças da cultura e da atitude perante os problemas, lembrando sempre que não deveria ser possível continuar com o processo de agregação de quantidades de desassistidos ou marginalizados na sociedade nacional. Duas décadas de pouco crescimento já afetaram negativamente, e em demasia, a vida de milhões de brasileiros. Uma terceira, uma quarta… estas seriam proposições real e efetivamente não aceitáveis!