Racismo no Brasil é sorrateiro e incomoda, diz ex-ministro do TST

11 de junho de 2020

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Primeiro negro a assumir a presidência do TST, Carlos Alberto Reis de Paula destaca que sociedade precisa admitir que existe discriminação racial no país

O combate ao racismo ganhou força e levou milhares de manifestantes às ruas após o assassinato do negro norte-americano George Floyd durante uma abordagem da polícia. “Não consigo respirar” foram as últimas palavras ditas por ele, enquanto o policial Derek Chauvin mantinha o joelho sobre o seu pescoço por quase nove minutos. As imagens correram o mundo e acenderam um farol sobre a violência racial, que em alguns países apresenta-se de forma velada, mas não menos cruel.

Revista Brasil conversou com o ministro aposentado do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Carlos Alberto Reis de Paula, sobre racismo.

Ouça no player abaixo:

 “O fato se tornou mundial. Todos os povos viram, mas é importante ressaltar que mundial também tem sido a resposta. Isso significa uma mudança de atitude. O mundo tomou consciência e reagiu”, ponderou.

Segundo ele, no Brasil a discriminação ao negro não é tão escancarada como nos Estados Unidos. “Lá é externalizado de forma mais candente. Aqui no Brasil é sorrateiro, mas isso também incomoda. Não basta nós denunciarmos o racismo, não basta não sermos racistas. Aí, quando você toma uma atitude antirracismo, de oposição, isso incomoda.”

Carlos Alberto Reis de Paula foi o primeiro negro a assumir a presidência do TST, em 2013, e destaca que são várias as barreiras a serem enfrentadas no país.

“É a barreira do costume. É a barreira da cultura. É a barreira, sobretudo, da insensibilidade e da discriminação. Ao negro no Brasil se reservava o pior ensino e o pior lugar para morar. Em sua grande maioria, o negro não tinha oportunidade de crescer. A sociedade tem que admitir, de fato, que o negro é discriminado. Há que se dar oportunidade para o negro ascender. Há que se ter sensibilidade. Caso contrário, vamos assumir a posição de apenas fotógrafos: fotografamos a realidade, mas não conseguimos ajudar a mudar essa realidade”, afirmou.

Publicação original: Rádios EBC

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