Paladino da democracia

30 de abril de 2012

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No dia 20 de outubro de 1988, por ocasião de uma esplendorosa homenagem das classes empresariais do Amazonas a Bernardo Cabral, aqui em Manaus, pronunciei, cheio de alegria pela incumbência, saudando aquele ilustríssimo amigo, o discurso que se segue.

Retiro a peça das páginas do livro de minha autoria, Bernardo Cabral – Um paladino da democracia, e corroborando com isso o reconhecimento que ora se faz, em nova homenagem a esse valoroso caboclo.

Missão cumprida

“Não cometerei a imodéstia de afirmar, no início destas palavras, que elas poderiam ser ditas por pessoa mais indicada, dentro do conjunto enorme de amigos do deputado Bernardo Cabral. Se cabe da parte dos aqui presentes a permissão para o vitupério, eu diria ser neste instante, pelo imperativo da amizade, o homem certo no lugar certo.

Não que me sobrem apanágios de cultura que permitam o pronunciamento de uma peça capaz de emocionar os julgadores do Nobel de Literatura… Mas de uma coisa estou convicto e proclamo: ao falar nessa homenagem feita pelos amigos de Bernardo Cabral, assumo a empreitada com a plena certeza de que, na alta responsabilidade do encargo que as circunstâncias benfazejas da vida a mim concederam, vai um sentido de honesta sinceridade tão grande, que mesmo aqueles que não me conhecem mais de perto, sentirão que as minhas palavras são a expressão da verdade mais fraterna e não a simples manifestação de alguém apenas desejoso de se desincumbir de um encargo.

Alinho-me, como tantos amigos que se encontram neste recinto, entre aqueles que não apenas deram o seu voto isolado, como trabalharam duramente pela eleição de Bernardo Cabral à Câmara dos Deputados. O que esperávamos dele? Compensações posteriores pelo voto concedido, pedindo-lhe favores, empregos ou vantagens? Nem pensar. Eu tinha em mente, como estou certo de que os demais também tinham, em primeiro plano, o conhecimento da comprovada competência do nosso candidato, pelo repassar de tua vida pregressa desde os bancos escolares até a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, em plano posterior, mas nem por isso menos importante, a plena noção do que ele representara, de atuante e eficiente, como representante mais votado do Amazonas na Câmara Federal, até a cassação do seu bravo mandato, em 1968.

E o tempo apenas se encarregou de mostrar que aqueles que haviam sufragado o nome de Bernardo Cabral, aqueles que haviam depositado no relicário do seu caráter o voto de tua confiança e da certeza de que ele corresponderia à missão que lhe estava sendo confiada, haviam acertado plenamente e só tinham, antes como agora, razões para se sentirem orgulhosos de tua opção.

A democracia é construída com escolhas assim. É certo que os sufragistas podem, às vezes, indicar para os postos eletivos pessoas desprovidas de qualquer sentimento que não seja o do mais frio, cruel e insensível egoísmo, pessoas que após eleitas passam a considerar o povo tão distante de si como os habitantes de galáxias distintas. Mas no momento em que se escolhe um homem com a retidão moral e com a formação humanística de um Bernardo Cabral, o instituto do voto secreto, livre e universal se redime de pleno direito perante as consciências e dá aos que defendem o regime da representatividade popular em parlamentos, as armas de que carecem para manter viva e desfraldada a bandeira alvinitente e pura da democracia.

Saúdo, portanto, a ti, Bernardo Cabral, filho de Antonio Andorinha Cabral e Cecília Cabral, em nome da tua legião de amigos e companheiros de lutas; dos que estão presentes e dos que não puderam estar aqui; dos que vivem no Amazonas e dos que se espalham pelo país todo; dos que estão no Brasil e dos que residem no estrangeiro; dos que te admiram pelo que tu és, pelo o que tu representas como paradigma da dignidade política, pelo que tu significas como exemplo a ser seguido, nesta hora triste de vacilações e temores, em que muitos homens públicos não se mostram a altura do desafio dos tempos difíceis em que vivemos; dos camaradas vivos e dos que partiram há muito; de todos, enfim, que te estimam e te respeitam.

Que Deus, o supremo artífice dos mundos, o grande arquiteto do universo, o ser magnificente que vela pela humanidade, derrame sobre a tua cabeça as bençãos misericordiosas do seu amor e que tu tenhas pela frente muitos e muitos anos de vida, para poderes dar à terra amada da tua nascença, e ao Brasil, outras manifestações incomparáveis do teu talento, do teu amor brasílico, do teu caráter retilíneo, da tua capacidade de seres autêntico, tal como fizeste agora, exaltando o Amazonas e honrando a tua e a nossa condição de caboclos, como relator-artífice da Constituição brasileira de 1988.
Muito obrigado, Cabral.”