Edição

“Onde não existe liberdade de imprensa nenhuma liberdade há de existir”

30 de junho de 2015

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Nota do Editor__________________________________________________________________

A Revista Justiça & Cidadania se considera partícipe do júbilo pela posse, no Instituto dos Advogados Brasileiros, do membro do seu Conselho Editorial, o jurista e jornalista Júlio Antônio Lopes, figura de destaque nas lides forenses da Amazônia e no jornalismo, onde tem conceituada e respeitável atuação no jornal A Crítica de Manaus, onde também exerce a direção jurídica.

O perfil do companheiro Júlio Antônio Lopes está levemente descrito em seu discurso, porém mostra a garra libertária e humanista desse nosso valoroso conselheiro.

 

Discurso de posse do jurista Júlio Antônio Lopes no Instituto dos Advogados Brasileiros

julio-antonio-lopes“Senhoras e Senhores, boa-noite!

Em primeiro lugar, o agradecimento a Deus, revelado pelo Senhor Jesus, que me permitiu estar hoje aqui com os senhores, ingressando neste templo do Direito.

Quero saudar a todos os ilustres membros do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), na pessoa de seu presidente, o Dr. Técio Lins e Silva, o qual, além de me dar a honra de subscrever a propositura de minha admissão, feita pelo Dr. Bernardo Cabral (para quem reservei um tópico especial deste discurso), é uma referência de trabalho e de ética na advocacia, que admiro a distância desde quando tive contato com seu notável livro intitulado “O que é ser advogado”. E, nesta oportunidade, agradeço pela fraternal acolhida.

Quero registrar a presença do meu amigo, meu ex-professor, confrade e ex-presidente da Academia Amazonense de Letras, Dr. José dos Santos Pereira Braga, aqui representando, por delegação de seu presidente Armando Andrade de Menezes, o nosso Sodalício.

Quero agradecer a presença do meu amigo, confrade de Academia Amazonense de Letras e também presidente da Academia Amazonense de Medicina, Dr. Cláudio do Carmo Chaves, e de sua esposa e querida amiga, Fernanda Chaves.

Quero agradecer a presença do meu amigo Dr. Frânio Lima, meu professor na Faculdade de Direito, colega de jornal e ex-Procurador-Geral do Estado do Amazonas, hoje residente no Rio de Janeiro, acompanhado de sua esposa e também querida amiga, Dra. Lindalva Lima.

Quero agradecer, ainda, a presença dos amigos Orpheu Santos Salles e Tiago Salles, editores da Revista Justiça & Cidadania (onde figuro como conselheiro editorial), do Instituto Justiça & Cidadania, e também promotores de um dos mais destacados prêmios do mundo jurídico brasileiro, o Troféu Dom Quixote.

Quero homenagear a todos os presentes com o registro de duas presenças especiais: de minha esposa Jozélia, que me deu três lindos filhos e que é a luz de minha vida; assim como de nossa amada amiga Zuleide da Rocha Cabral, esposa do nosso Bernardo. Um beijo no coração de ambas!

Eu venho de longe. Venho da floresta amazônica, de tantas riquezas, histórias de lutas, de mistérios e de heróis. Cogitei ser advogado influenciado pelo meu pai que, curiosamente, não era advogado – era jornalista –, mas vivia sendo demandado para defender as pessoas simples que se viam envolvidas em questões legais. Ele ia para as delegacias, como cidadão, como autodidata, e me levava junto, eu ainda criança, e nunca pedia ou aceitava qualquer retribuição pecuniária. Fazia aquilo pelo prazer de servir e de ajudar o seu semelhante.

Foi ali, posso dizer sem dúvida, que nasceu em mim a vontade de ser advogado. Foi ali que meu coração começou a bater em um compasso diferente; aquele foi o raio que me fez alimentar o desejo, menino humilde que era, de entrar para a Faculdade de Direito e de fazer o possível para honrar meu pai e minha mãe no exercício da advocacia, procurando sempre lutar pelo que é justo e honesto. Pronuncio seus nomes com enorme saudade, gratidão e amor eternos: Julian Flores Lopes e Naha de Jorge Lopes. E aqui faço um parêntesis para lembrar de um episódio que me contou um antigo professor, que morou no Rio de Janeiro. Dizia ele que assistia a um debate no Tribunal do Júri, quando Evandro Lins e Silva, tio de nosso presidente, teria perguntado aos jurados se eles sabiam definir o que é saudade – é o sentimento que invade o meu peito na noite de hoje ao lembrar de meus pais –: “a saudade é a vitória do amor sobre o tempo e sobre a distância”.

E eu, que vim de longe, todavia, não vim sozinho. Antes de mim, outros amazonenses ilustres aqui estiveram, desbravando áridos caminhos e mostrando ao mundo o valor da gente do Amazonas. Cito o criminalista Carlos de Araújo Lima, a quem recebi na Faculdade de Direito, quando ali fui presidente do Centro Acadêmico e ele foi palestrar sobre o Tribunal do Júri, sua paixão. Ficamos amigos e trocamos, ao longo da vida, inúmeras correspondências.

Mas ponho em especial relevo as mãos abençoadas que me trouxeram a este momento, que considero o ápice de minha vida de profissional, um presente mesmo dos Céus, posto que, agora, em 2015, completo 25 anos de efetiva e exclusiva militância, com todas as agruras e recompensas daí decorrentes: as mãos desse gigante da política brasileira, desse ser humano na mais ampla e benfazeja acepção da palavra, desse Mestre do Direito, desse cidadão do Ama­zonas, do Rio de Janeiro e do mundo, o relator da Constituição brasileira de 1988, nosso amigo comum e meu confrade, agora também consócio, o Dr. J. Bernardo Cabral.

Vinicius de Moraes dizia, com muita razão, que a vida é a arte do encontro, apesar de haver tantos desencontros pela vida! E eu fui brindado, no curso de minha existência, com um encontro com você, meu amigo, um companheiro de destino, a quem honro, admiro e para quem prometo fazer jus à confiança em mim depositada, bem como assumo o compromisso de desincumbir-me da grande res­ponsabilidade de receber o seu aval para integrar os respeitados quadros do Instituto dos Advogados Brasileiros.

Sou filho de jornalista. Meu pai fez circular em Manaus, entre as décadas de 40/50 do século passado, um jornal chamado O Tempo. Aprendi desde cedo, com papai, o valor da liberdade de imprensa para a liberdade de cada um de nós. Aliás, comecei a escrever em jornal quando estudava direito. Tornei-me articulista, editorialista e colunista do jornal A Crítica, de minha cidade.

Hoje sou seu diretor jurídico. No desempenho de minhas funções de advogado do jornal e de jornalista, vivenciei momentos dramáticos de lutas contra adversários poderosos, que o queriam calar, a qualquer custo, mas nunca conseguiram. Aprendi, nessa lida, que a verdadeira democracia não pode prescindir de uma imprensa livre e o governante, por sua vez, não apenas deve, mas necessariamente precisa submeter-se ao escrutínio diário de seus concidadãos, eis que, ao contrário do que pensam alguns embriagados pelo poder provisório, o homem público não é senhor, mas servo máximo da Nação! É do direito de opinar, de criticar, de conhecer, enfim, que o povo exerce a sua soberania, se previne ou reclama contra eventuais abusos de seus representantes. E onde não existe liberdade de imprensa nenhuma liberdade há de existir.

Foi por isso que, no ato de assinar os documentos relativos à proposta de minha admissão na Casa de Montezuma, que desde 1843, portanto há 172 anos, presta inestimáveis serviços ao Brasil, que optei por integrar as comissões de Direito Constitucional e de Direitos Humanos, ambas as matérias umbilicalmente ligadas às causas que têm sido minha razão de viver. Mas estou pronto para atuar em qualquer missão que me for conferida, com humildade e muito trabalho, como sempre faço nas coisas e no seio das instituições com que me envolvo. A partir de hoje visto a camisa do IAB, ciente de que sou o mais novo e o menor de todos os seus membros. Os senhores, no entanto, podem ter certeza de que darei o máximo de mim para lustrar, ainda que de maneira modesta, o nome desta casa, onde pontificaram e pontificam tantos luminares das letras jurídicas nacionais.

Muito obrigado!”