Mulheres latinas: lutas e conquistas para uma sociedade mais igualitária

5 de agosto de 2024

Patrícia Souza Anastácio Advogada/ Conselheira da AASP/ Membra da Associação Nacional dos Advogados Negros (ANAN)

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Os movimentos femininos latino-americanos destacam a diversidade, a resiliência e a influência das mulheres em várias esferas da vida pública e privada, reforçando sua importância como agentes de mudança e progresso social.

No dia 25 de julho foi celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha. Esta data é uma homenagem a essas mulheres, reconhecendo suas lutas históricas e suas contribuições significativas para suas comunidades e para a sociedade em geral.

É uma oportunidade importante para destacarmos as múltiplas formas de discriminação e desigualdade que nós mulheres enfrentamos, além de promover a igualdade de gênero, a justiça social e o reconhecimento de suas identidades e culturas únicas.

Como mulher negra, conheço bem a história de conquistas em diversas áreas, apesar dos desafios e das injustiças que enfrentamos e ainda enfrentaremos. O ativismo e a liderança das mulheres negras têm desempenhado papéis fundamentais na luta pelos direitos civis, sociais e políticos. Podemos citar notáveis pessoas como Rosa Parks, Angela Davis, Audre Lorde e, hoje em dia, figuras como Tarana Burke, fundadora do movimento #MeToo.

Na questão da educação e da academia, temos contribuído para o conhecimento científico, cultural e humanitário em diversas disciplinas. Além disso, as mulheres negras também têm deixado uma marca indelével na literatura, na música, no cinema, nas artes visuais e demais expressões culturais. Autoras como Toni Morrison e Chimamanda Ngozi Adichie; artistas como Beyoncé e Lupita Nyong’o; e cineastas como Ava DuVernay são apenas alguns exemplos.

Apesar das desigualdades econômicas persistentes, as mulheres negras estão, ainda em passos lentos, alcançando sucesso empresarial, liderança em corporações e empreendedorismo, contribuindo para a economia e para o avanço de suas comunidades. Dentro da política e da governança, mulheres negras têm, timidamente, ocupado cargos políticos de alto escalão em muitos países, atuando como parlamentares, prefeitas, governadoras e até mesmo chefes de estado.

A nossa luta por Direitos Civis e igualdade legal tem sido conduzida por muitas mulheres negras, resultando em legislação crucial para proteger os Direitos Humanos, os direitos das mulheres e a igualdade racial. Essas conquistas destacam a resiliência, a determinação e o impacto duradouro das mulheres negras em suas comunidades e no mundo em geral, apesar das barreiras estruturais e sociais que ainda persistem.

Dentro desse contexto, as mulheres latinas têm também uma história rica de lutas e conquistas em várias áreas da sociedade. Aqui estão algumas das principais áreas em que as mulheres latinas têm feito contribuições significativas, como no ativismo e movimentos sociais para além da América Latina, lutando por Direitos Civis, Direitos Trabalhistas, Justiça Ambiental e outras questões importantes. Temos os exemplos de Dolores Huerta, cofundadora do United Farm Workers, e Rigoberta Menchú, ativista pelos direitos dos povos indígenas na América Latina. Essas conquistas destacam a diversidade, a resiliência e a influência dessas mulheres em várias esferas da vida pública e privada, reforçando sua importância como agentes de mudança e progresso social.

Todavia, não podemos esquecer que tanto as mulheres negras como as latinas e caribenhas ainda enfrentam uma série de desafios e lutas para alcançar igualdade real e justiça social. Algumas das principais questões incluem o combate à violência e maior segurança, considerando que ainda hoje convivemos com altas taxas de violência física, sexual e doméstica, o que torna urgente a necessidade de se implementarem políticas e programas que ofereçam proteção adequada e apoio às vítimas.

Outro ponto crucial está nas disparidades de renda e oportunidades econômicas enfrentadas por este grupo. Mulheres negras têm menor acesso a empregos bem remunerados e figuram entre as maiores taxas de desemprego e menor representação em posições de liderança corporativa. Apesar dos avanços, ainda há desafios no acesso equitativo à educação de qualidade para mulheres negras, desde o ensino básico até o superior, bem como a persistência de estereótipos e preconceitos que afetam seu desempenho acadêmico e oportunidades.

A área da saúde também pede um olhar cuidadoso, uma vez que nós mulheres negras enfrentamos uma prevalência maior de doenças crônicas, taxas de mortalidade materna mais altas e acesso limitado a serviços assistenciais de qualidade, especialmente em áreas rurais e urbanas pobres. 

No âmbito da Justiça Criminal, enfrentamos um sistema que muitas vezes nos trata de maneira desigual, desde o policiamento até o julgamento e a sentença, contribuindo para altas taxas de encarceramento. Para que esse cenário mude, precisamos de políticas públicas e de participação. 

Apesar de avanços nesta área, as mulheres negras continuam sub-representadas em cargos políticos e decisórios. A formulação de políticas públicas que abordem de maneira eficaz as necessidades específicas das comunidades negras ainda é insuficiente. Da mesma forma que a promoção de ambientes de trabalho e comunitários inclusivos e respeitosos é essencial para o progresso e a redução da discriminação por gênero e raça. 

Por todas essas questões, a luta por justiça social, igualdade e reconhecimento pleno de seus direitos continua sendo prioridade para movimentos e ativistas em todo o mundo. Datas como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha e o Mês da Consciência Negra têm contribuído para aumentar a conscientização sobre as conquistas, desafios e contribuições das mulheres negras para a sociedade, contudo a nossa luta é diária e não podemos nos resumir a apenas duas datas no ano. Somos maiores, tivemos papel importantíssimo na construção da atual sociedade, nossa voz deve ser ouvida e respeitada sempre.

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