
Nos últimos anos, e nos três mais recentes com ênfase renovada, as estruturas do País vêm sendo modificadas. Muitas vezes, isso ocorre em pequena escala: um fato de menor monta se soma a outro de médio tamanho, mais um, e outro ainda, até se consolidar no estopim para uma grande transformação. Em outras, o processo se dá de maneira drástica e irrevogável. Nada está acomodado no berço esplêndido que menciona a letra do hino nacional, o repouso de onde o “gigante” levantou-se em julho de 2013. E não mais descansou.
Pequenas e grandes manifestações seguem pelas ruas das cidades de todo o Brasil. Há quem cobre mais ação deste ou de outro grupo, em provocações impregnadas pelo sectarismo. Há quem diga que a voz deste ou daquele movimento se fez calar pelo comodismo. Não. Ninguém está tranquilo. E o inconformismo social deixa se ver, fantasiado, mas em nada dissimulado, até mesmo na maior festa popular do País.
Não vou aqui criticar nem defender. Não é meu papel dizer quem está certo ou quem está equivocado. Até porque não existem certezas absolutas no Brasil de 2018. Ou talvez exista uma. A mesma que mencionei no início e que me fez começar a desenhar as primeiras linhas deste editorial. Temos a plena certeza de que nosso País encontra-se em contínuo processo de transformações irreversíveis e absolutamente necessárias para o bem e a sobrevivência de nossa democracia.
É disso que trata a reportagem de capa desta edição. Ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luiz Fux terá diante si uma tarefa hercúlea de preparar aquelas que serão, muito provavelmente, as eleições mais decisivas de nossa história. Decisivas e imprevisíveis. Embora tenha de lidar com muitos desafios – e o maior deles talvez seja o ainda não dimensionado poder das mídias sociais –, o novo presidente da Corte terá como trunfos não apenas sua ampla experiência e as inquestionáveis qualidades de magistrado que possui. Duas das mudanças que se originaram de todo este processo de desconstrução da política nacional serão, justamente, instrumentos de valor que o ministro Fux terá diante de si. A primeira delas reside na modificação do sistema de financiamento das campanhas dos candidatos, desde que, há dois, anos, a contribuição empresarial foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A outra é a entrada em vigor da chamada Lei da Ficha Limpa (Lei no 135/2010).
Com esta nova dinâmica, certamente teremos um quadro totalmente renovado no processo eleitoral de 2018. Percebam que não estou falando aqui de um “milagre” repentino, que irá deixar de fora da política nacional todos os tipos de personas que tenham – alguma vez e em qualquer grau –, incorrido no mal da corrupção, a razão única de toda a crise da política nacional.
Estou apenas registrando uma observação que muitos brasileiros já constataram: pela primeira vez em muitas décadas, os rumos da Nação começam a se movimentar em outro sentido. Em grande parte este fato é uma consequência direta do clamor social, da voz que veio das ruas – a Lei da Ficha Limpa é um exemplo claro e indiscutível.
Portanto, quero deixar expresso aqui os meus votos de sucesso ao ministro Luiz Fux em sua jornada para preparar este grande acontecimento democrático de nosso País.
Aos brasileiros, deixo registradas as minhas considerações de que é preciso, mais do que nunca, usar nosso poder para promover as mudanças com consciência, buscando o conhecimento, evitando a cegueira da intransigência de posições previamente assumidas. O voto é, por certo, nossa principal arma para continuar buscando as mudanças que desejamos. Elas não virão no curto prazo, no entanto, ao avaliarmos os caminhos que percorremos em apenas três ou quatro anos, não podemos sufocar a breve esperança de que estas ocorram. E que, mesmo no longo prazo, o Brasil possa deixar para trás seu passado manchado pela corrupção. Assim como declarou o novo presidente em sua posse, todos nós temos o mesmo sonho: “queremos um novo Brasil e vivê-lo como a pátria amada significa olhar para o futuro com um novo despertar cívico da alma brasileira”.