Mar calmo nunca fez bom marinheiro

7 de julho de 2020

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Tornou-se lugar comum a ideia de que a palavra chinesa para “crise”, wēijī,  resulta da composição de dois caracteres que significam, respectivamente, “perigo” e “oportunidade”. Segundo os linguistas, contudo, trata-se de um erro de tradução, pois enquanto wēi de fato significa perigo,  jī é um termo polissêmico, cuja tradução mais apropriada seria “ponto crítico”.

Ainda assim, a sabedoria oriental continua útil para compreender o momento atual. Vivemos de fato um ponto crítico da história. Insistir nos erros do passado poderá nos levar além do “ponto de não retorno” em direção aos perigos de uma tempestade que, ao mesmo tempo, é sanitária, econômica e política.

As condições que nos trouxeram até aqui não nos levarão à segurança adiante. Não dá para mudar o vento, mas ao menos podemos ajustar a posição das velas. Para sair desse mar revolto melhor do que entramos, a pandemia exige a revisão de vários conceitos.

No Direito, os especialistas apontam dentre as necessárias mudanças, por exemplo, a substituição do velho paradigma da litigiosidade pela busca do consenso. Assim como o uso apropriado das novas tecnologias e a fixação de precedentes jurisprudenciais que sejam verdadeiras bússolas para apontar a direção correta a todos os tribunais e órgãos julgadores do País. São transformações que vão exigir resiliência dos atores jurídicos e ampla concertação entre os Poderes, os setores econômicos e os segmentos da sociedade.

Nessa edição, buscamos contribuir com esse debate trazendo entrevistas, reportagens e artigos com variadas visões sobre o papel da Justiça no momento presente. Pois como estão a dizer, nas próximas páginas, alguns dos magistrados e juristas que ajudam a formar essa massa crítica, “mar calmo nunca fez bom marinheiro” e “é nas crises que produzimos as melhores soluções”.    

Boa leitura!

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Nota de pesar – Com tristeza, registramos em 20/6 o falecimento do ilustre jurista Sylvio Capanema, membro do Conselho Editorial da Revista JC, autor de obras importantes e grande orador. Seu profundo saber jurídico e sua imensa cordialidade farão muita falta.