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Histórias que ampliam horizontes

11 de agosto de 2014

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jose renato“Mencionar apenas três livros entre os milhares que me tornaram o que sou é um desafio”, protestou o desembargador José Renato Nalini ao número sugerido pela Coluna na solicitação feita a ele para que revelasse as obras que mais o inspiraram.Mesmo assim, o magistrado, que hoje preside o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), o maior do País, fez questão de atender pedido. E pontuou não três, mas quatro obras que considera imprescindíveis às mentes mais sensíveis daqueles que realmente desejam ampliar os horizontes no ofício jurídico.

Os Miseráveis, do francês Victor Hugo, encabeça a seleção de Nalini. A obra foi lançada em 1862 e conta a história de Jean Valjean, preso por roubar um pão e que, mesmo depois de cumprir pena, continua a ser perseguido por um inspetor fanático. A narrativa tem forte cunho social. “O implacável Javert (o inspetor) era alguém que não sabia distinguir as circunstâncias de um furto famélico de um homicídio”, explicou o desembargador.

Na avaliação de Nalini, a forma de pensar e agir do personagem não é muito diferente de alguns atores do mundo jurídico na vida real, por isso a importância do livro, destacou. “A obra evidencia como ainda estamos vinculados à concepção de prisão como resposta única a toda e qualquer ilicitude no âmbito criminal. O instinto profundo de tradicionalismo ainda inebria muitas de nossas mentes, o que talvez seja uma das explicações para o ranking do encarceramento de cujo ápice continuamos a nos aproximar”, disse.

Outra sugestão do presidente do TJSP é O Processo, de Franz Kafka. O livro conta a história do bancário Joseph K, que é preso, julgado e condenado por um misterioso tribunal, por motivos que jamais chegou a descobrir. Segundo Nalini, assim como na obra, a insensatez do formalismo estéril também é um fantasma que ronda a Justiça brasileira. “Auto-indagar-se a respeito das consequências concretas da decisão é um exame de consciência que se recomenda a todos nós, integrantes do quadro do Poder Judiciário. O processo judicial há de ser resposta eficiente a uma pretensão formulada pelo jurisdicionado, não um sofisma kafkiano”, destacou.

Ainda no sentido de contribuir para o aperfeiçoamento da prática jurídica, Nalini sugeriu Contos Completos, de Monteiro Lobato, por se tratar de “oficina vernacular na qual se pode enriquecer o vocabulário de cada profissional da área jurídica”. E concluiu sua lista com O Trivium Clássico, escrito por Marshall McLuhan. De acordo com ele, a obra é interessante por resgatar o valor da educação contínua para adequado desempenho em qualquer das atividades vinculadas ao Direito. “É urgente retomar o apreço pelo entranhado amor à língua, pois, como afirma McLuhan, ‘a busca de uma ordem psicológica em meio ao caos político e material é a essência da gramática’”.

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