Edição 184
Encontro jurídico no TJRJ homenageia Ministro Carlos Velloso
14 de dezembro de 2015
Da Redação

Desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, presidente do TJRJ, entregando ao ministro Carlos Velloso, juntamente com o desembargador Werson Rego, a obra coletiva que será lançada no ano de 2016 em sua homenagem
Ex-presidente do STF e do TSE é homenageado por Ministros e Desembargadores no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
“O Poder Judiciário brasileiro é uma referência internacional e o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) é o celeiro do Supremo Tribunal Federal (STF). Se recebo esta homenagem é porque fiz amigos, o que é importante e, mais ainda, é mantê-los”. As palavras emocionadas são do ex-presidente do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Mário da Silva Velloso, na homenagem que recebeu no dia 9 de novembro, no plenário do TJRJ. A cerimônia fez parte do Encontro Jurídico em torno do tema “Protagonismo Judicial, Segurança Jurídica e Paternalismo Exacerbado: Desafios em Tempos de Incerteza”, organizado pelo TJRJ em parceria com a Harvard Law School Association of Brazil e com a Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas. O evento reuniu ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), desembargadores do TJRJ, do Tribunal Regional Federal da 2a Região (TRF-2) e do Tribunal Regional do Trabalho da 1a Região (TRT-1), membros do Ministério Público e da Defensoria Pública, Procuradores do Estado e do Município e integrantes do Executivo e do Legislativo estaduais e municipais.
Em uma referência à origem mineira do homenageado, o presidente do TJRJ, desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, convidou a todos para um “dedo de prosa”, em que assinalou as características da personalidade
do ministro Carlos Veloso: “Constitucionalista consagrado, na administração judiciária tornou possível a instituição do voto eletrônico, quando esteve no TSE. O nosso país tem muito a agradecer a este jurista, humanista, cidadão e construtor de um mundo mais justo”, destacou.
Coordenador acadêmico do evento, o Desembargador Werson Rêgo, da 25a Câmara Cível do TJRJ, especializada em Direito do Consumidor, apresentou, na sequência das homenagens, obra coletiva com estudos jurídicos a ser lançada ano que vem no STF e na Universidade de Harvard. “Cinco dezenas de juristas participarão desse trabalho em homenagem ao ministro Carlos Velloso. São renomados professores, nacionais e internacionais, entre magistrados de diversas cortes e graus de jurisdição, procuradores, integrantes do Ministério Público e da Defensoria Pública, advogados e pesquisadores”, afirmou.
Participaram do evento os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso, do STF; Sebastião Reis Jr. (representado pela Dra. Anna Maria Reis), Luis Felipe Salomão, Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin, Ricardo Villas Bôas Cueva, Paulo de Tarso Vieira Sanseverino e Fátima Nancy Andrighi, do STJ, e diversas autoridades e magistrados do TJRJ.
Ministros destacam protagonismo da Justiça
Uma reflexão sobre a atuação do Judiciário nos diversos parâmetros da vida social e econômica foi aprofundada pelos ministros Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Luiz Fux, do STF, e Antonio Herman de Vasconcelos e Benjamin, do STJ, na primeira parte do seminário.
O ministro Luís Roberto Barroso destacou a judicialização hoje existente no País. O magistrado afirmou que o STF tem mantido a autocontenção em suas decisões. “Tudo no Brasil pode ser judicializado, temos elevado grau de judicialização e modesto ativismo judicial”, disse. “Viver é equilibrar-se. Às vezes, a plateia pode achar que o equilibrista está voando. O equilibrista tem de saber que está se equilibrando. Se achar que está voando, vai cair”, concluiu.
Já o ministro Gilmar Mendes destacou que o STF tem importante papel na defesa dos direitos de liberdade. Disse que, no passado, o Supremo demonstrou essa posição ao garantir a liberdade de pessoas presas sem comprovação, por abuso da autoridade policial. Ele afirmou também que o ativismo no Judiciário é mal resolvido.
Ao comentar o protagonismo do Judiciário, o ministro Antonio Herman (STJ), terceiro a palestrar, destacou que o juiz não é paternalista. “O Estado Democrático de Direito é paternalista. O juiz aplica o Direito. O Direito não pode estar mais certo que a realidade”, assinalou.
Encerrando as apresentações da parte da manhã, o ministro Luiz Fux disse que, no Direito brasileiro, o juiz só age quando provocado. “A Justiça é a esperança dos que tentam viver”, ressaltou.
Ministros debatem atuação da Justiça, direito à saúde e segurança jurídica
Após as homenagens e palestras da manhã, o TJRJ ofereceu um almoço para o Ministro Carlos Velloso, familiares e amigos, palestrantes, autoridades presentes, magistrados da corte e convidados no Salão Nobre.
A corregedora nacional de Justiça, ministra Nancy Andrighi, deu início às palestras do turno da tarde do seminário. Andrighi discursou sobre o paternalismo exacerbado do Poder Judiciário e a ciência médico farmacêutica, apontando dualidades e pontos contraditórios. Ela analisou juridicamente o caso de produção e distribuição da fosfoetanolamina sintética, uma droga experimental de combate ao câncer.
Nancy Andrighi propôs a reflexão de como aplicar o direito à saúde sem infringir normas da Constituição. “O direito à saúde é fundamental, um dos mais relevantes, mas não é absoluto”, pontuou a ministra, e disse que o juiz deve avaliar de acordo com a razoabilidade e a proporcionalidade, para que interesses individuais não sejam atendidos em detrimento de interesses coletivos.
O ministro do STJ Ricardo Villas Bôas Cueva proferiu palestra sobre a “Incerteza Jurisdicional e a Segurança Jurídica”. Cueva problematizou o assunto a partir de casos cujas consequências econômico-financeiras dos pronunciamentos judiciais impactam a economia. O ministro foi otimista: “Nós temos avançado no Brasil para uma discussão positiva sobre segurança jurídica, que nos permite acreditar que teremos a preservação desse valor essencial”, concluiu.
A terceira palestra da tarde também tratou da segurança jurídica. O ministro do STJ Paulo de Tarso Sanseverino abordou questões sobre precedentes jurisprudenciais e o novo Código de Processo Civil, que entra em vigor em 2016. “Esses temas são importantes porque tratam da efetividade e da proteção da Justiça”, declarou o ministro.
O presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, afirmou que “o Poder Judiciário assume, no mundo inteiro, e cada vez mais, o papel de protagonista no meio social”. A análise foi feita durante a palestra de encerramento do seminário.
A palestra de Toffoli tratou, além do protagonismo da Justiça, de ativismo judicial. Para o magistrado, o aumento da judicialização no Brasil tem base no grande número de Constituições e de Códigos de Processo Civil que foram estabelecidos no País ao longo dos anos. Dias Toffoli comentou ainda como deve ser a atuação da Justiça. “Cabe ao Poder Judiciário o difícil papel de restringir a vontade popular em nome da proteção dos direitos fundamentais, evitando, assim, o esmagamento das minorias”, afirmou o ministro.
O presidente da mesa e dos trabalhos na parte da tarde, Desembargador Werson Rêgo, ao final, fez breve e precisa síntese de tudo o que fora abordado pelos palestrantes do encontro. Recordou que a judicialização é um fenômeno social relevante e irreversível, verdadeiro desafio ao Poder Judiciário. Assinalou que os magistrados foram colocados em um cenário diferente, sob os holofotes da sociedade e chamados a desempenhar o papel principal. Realçou, contudo, que os julgadores devem conhecer as possibilidades e os limites de sua atuação para agir, com coragem e independência, na forma da lei, sem subjetivismos ou ideologias, dando a cada um o que for seu por direito. Lembrou que o ativismo judicial, por si só, tem várias facetas e abordagens, nem boas nem ruins, mas necessárias em casos difíceis (hard cases), diante do vazio legislativo e da inércia do Executivo.
Com informações do TJRJ