Bernardo Cabral um Estadista da República

30 de abril de 2012

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Conheci Bernardo Cabral quando, nos idos de 1988, eu presidia o Centro Acadêmico da Faculdade de Direito do Amazonas e fiz-lhe um convite para vir palestrar aos estudantes.

Confesso que o fiz sem a certeza de que ele aqui estaria. Afinal de contas, Cabral acabara de relatar, com intenso trabalho e imenso brilho, a Constituição Cidadã e a sua agenda estaria compreensivelmente tomada. Por isso, foi com grata surpresa e muita alegria que eu e meus colegas recebemos a resposta positiva, por meio de ofício assinado de próprio punho, o qual guardo até hoje entre os meus relicários. Cabral estaria na “Velha Jaqueira”, como era chamada carinhosamente a nossa Faculdade, onde ele também estudara e concluíra o seu curso. Aquele homem, que já virara Cidadão do Mundo, graças às lutas que travou em prol da liberdade e dos direitos humanos, sempre reservaria, aprendíamos então, um amor imorredouro  prioritário pela Terra que o teve por berço.

Dele, naquela oportunidade, recebi um exemplar da nova Constituição, devidamente autografado. E hoje, ao lado da Bíblia, ela ocupa um lugar cativo na minha cabeceira, porquanto é preciso que conheçamos a lei dos homens, mas é preciso que saibamos, também, aplicá-la com base na lei de Deus, que é eterna.

Passados os anos, voltamos a nos encontrar quando Bernardo Cabral candidatou-se a Senador e ficamos amigos, ele que, fonte de benquerer, tantos amigos possui.

Agora me lancei numa tarefa ao mesmo tempo ousada e apaixonante: traçar em livro o seu perfil biográfico. Ousada, porque muitos já escreveram sobre Bernardo Cabral; apaixonante porque se cuida de uma trajetória épica, exemplar, que precisa ser contada e, mais do que isto, ensinada às novas gerações.

É que se não tivesse feito mais nada na vida, Bernardo Cabral já estaria consagrado pela honra de ter sido o Relator-Geral da Constituição Brasileira de 1988, tarefa igual a que coube a apenas cinco de seus concidadãos ao longo dos 512 anos de nossa história.
Mas Cabral também foi presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil em plena ditadura militar e teve a sua nascente e fulgurante carreira parlamentar (ele era, na ocasião, deputado federal pelo Amazonas) interrompida pelo golpe de 1964, que o baniu injustamente da política por dez anos.

Com a distensão do regime, elegeu-se Deputado Federal novamente, só que desta vez constituinte e venceu, no voto, dois poderosos candidatos ao cargo de Relator, a saber: Pimenta da Veiga, Deputado Federal por Minas Gerais e o Senador por São Paulo, Fernando Henrique Cardoso, este que, depois, tornou-se Presidente da República.

Ministro da Justiça, Senador, Escritor, Tribuno, Político de visão e de antevisão, Bernardo Cabral é, sem nenhuma dúvida, um dos últimos heróis da Pátria, aquele tipo de homem – e de político honesto – que, infelizmente, a cada dia se torna mais raro. Um Estadista, mesmo, da República.

O livro sai em julho. Era algo que precisava ser feito. E eu costumo fazer aquelas coisas que o coração, o senso de justiça e o dever cívico comandam, como registrar o contributo inestimável de Bernardo Cabral para as causas mais caras ao aperfeiçoamento da humanidade.