Polícia Federal no olho do furacão político

5 de julho de 2005

Compartilhe:

As cartas estão na mesa. O governo enfrenta uma crise sem precedentes e o Planalto está encurralado como publicou o jornal O Estado de São Paulo. Tudo isto depois que o chamado “homem-bomba”, deputado Roberto Jefferson detonou suas baterias contra o Partido dos Trabalhadores acusando-o de comandar um processo de corrupção em diversos setores da administração Federal.

A cúpula do Partido está desmontada. Caíram o seu presidente José Genoíno, o tesoureiro Delúbio Soares, o Secretário-Geral Silvio Pereira e o Secretário de Comunicação Marcelo Sereno. Antes, já havia deixado o cargo de Ministro da Casa Civil, José Dirceu, um dos principais alvos da metralhadora do ex-presidente do PTB.

O jornalista Arnaldo Jabour em recente comentário na rádio CBN, disse que “as verdades de José Dirceu são mentiras e as mentiras de Roberto Jefferson são verdades”. Cabe, então, se apurar a veracidade dos fatos que estão deixando a nação estarrecida, e com razão, porque um Partido que sempre pregou a ética e a moralidade, depois que assumiu o poder, mergulhou num verdadeiro mar de corrupção.

Paralelamente aos fatos que estão sendo apurados pela CPMI do Congresso, a Polícia Federal começa a mergulhar fundo no olho do furacão político e, segundo o seu Diretor Geral, Paulo Lacerda, em recente entrevista publicada nos jornais do Rio e São Paulo, “ninguém será poupado mesmo que os suspeitos sejam da cúpula do PT”.

Paulo Lacerda que foi o primeiro delegado a investigar e indiciar um Presidente da República – Fernando Collor de Mello – a única limitação da Polícia Federal é a legalidade e lamenta que o Brasil não tenha aprendido a combater a corrupção com o caso PC Farias. E acrescenta: “tudo será apurado”.

O Diretor-Geral da Polícia Federal defende o financiamento público para as campanhas eleitorais como instrumento eficaz na redução da roubalheira, porque, segundo ele, “quem faz uma doação privada, vai cobrar na licitação”.

Que mecanismo pode fazer a prevenção à corrupção no Governo?

– Os fatos de agora estão relacionados a duas questões: o crime organizado, que a Polícia Federal vem combatendo de uma maneira bem intensa, e a corrupção política. Acho que só uma reforma política muito forte, que inclua o financiamento público de campanha, resolverá a questão. Sou inteiramente a favor da reforma, mas com uma legislação dura, que diga que o particular que der dinheiro para a campanha e o beneficiário devem ser condenados por crime eleitoral grave e presos. O que se sabe hoje é que alguns envolvidos perdem o mandato, mas não conheço ninguém que tenha sido condenado e preso por crime eleitoral. Minha posição é diferente do que anda dizendo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele fala que, se não tem dinheiro para o velhinho da Previdência ou para questões básicas da população, não pode botar dinheiro público em campanhas. Posso até imaginar as razões dele. Tenho certeza absoluta, depois de tanto tempo trabalhando em investigação, que esse é o grande mal e que o País economizaria muito. Quem doa para campanha cobra depois numa licitação ou de alguma outra maneira. É cultural. No caso PC havia um grande ensinamento sobre isso, mas não aprendemos.

O Deputado Roberto Jefferson disse que PC Farias é um pinto perto do mensalão. Tem fundamento?

– Sobre o caso PC posso falar porque trabalhei nele e fiquei horrorizado com o que vi. Aquilo (a corrupção) estava em praticamente todos os ministérios. Virou um monopólio da corrupção. Esse caso de agora está em fase de apuração. Não podemos nos antecipar. Estamos vendo algumas coisas tristes, mas ainda temos de investigar.

O que mais impressiona nas denúncias?

– De tudo o que o deputado Roberto Jefferson fala, a grande novidade é que ele também se auto-incrimina. Nesses casos normalmente a pessoa envolvida oculta a sua participação. Ele está se auto-incriminando. Precisamos investigar e ver o tamanho do problema.

Qual a diferença entre a corrupção nos Correios e a do mensalão para o caso PC?

– Até agora o que vi é a questão da campanha. No caso PC, tinha uma coisa diferente. Eles usavam duas maneiras de agir. Uma era buscar os empresários com o famoso pedido para caixa de campanha. O outro era simplesmente extorquir os empresários de forma continuada. O que a gente está vendo agora são pedidos para campanha e algumas alegações de possível envolvimento de órgãos públicos.

A Polícia Federal vai pedir a quebra do sigilo bancário do PT?

– Uma coisa que fazemos questão é não partidarizar. Quem apura questão de partido é a Justiça Eleitoral. Se ela entender que existe alguma questão que afeta o partido, vai requisitar que a Polícia Federal apure. Nós apuramos fatos criminosos, independentemente de qual é o partido. Isso não é relevante para nós.

O presidente do PT, José Genoino, e o deputado Professor Luizinho criticaram a PF pela ação na Caixa Econômica Federal. A polícia tem medo do PT?

– Não temos receio de partido nenhum. A polícia respeita, mas não temos relação com partido, nem temor reverencial ou de vínculos partidários. Nós nos preocupamos é com uma apuração isenta, que não se deixe levar por interesses partidários.

A Polícia Federal não servirá de instrumento?

– A polícia nunca foi instrumento. É muito importante dizer algo de absoluta justiça: desde que assumi, nunca sofri pressão nenhuma. O Ministro da Justiça dá total apoio. Não tenho contato com o presidente da República, mas as manifestações que vejo sempre é de determinar que se apure o que deve ser apurado. Se deixarmos de fazer alguma coisa, foi por incompetência ou por falha humana, não porque alguém nos impediu.

Como lidar com os casos envolvendo pessoas importantes?

– Tudo que disser respeito a um fato ilícito, criminal, será apurado. Podem ter certeza: tudo será investigado. Não há como esses fatos serem jogados para debaixo do tapete.

O publicitário Marcos Valério é o foco das investigações?

– Não apuramos pessoa específica, mas o fato criminoso. O Marcos Valério não pode ter cometido crime sozinho. Se ele cometeu, quem esteve com ele, será objeto da apuração e das medidas cabíveis, seja quem for. Não nos interessa se pertence a esse ou àquele partido. A única limitação é a legalidade. Não vamos agir de maneira açodada, que possa criar implicações legais sobre o trabalho.

O agravamento da crise política o preocupa?

– Não olho o quadro político como algo que possa nos atingir. Procuro ver se estamos no caminho certo. Mas é lógico que, como todo brasileiro, torço para que fique tudo esclarecido e que as instituições funcionem e cumpram suas obrigações.