A moralidade da coisa pública. O maior sonho dos brasileiros contra a corrupção que sangra o país em 200 bilhões de reais por ano

6 de janeiro de 2014

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Milhões de brasileiros ocuparam as ruas do país em 2013 desejando, entre uma extensa pauta de reivindicações, a moralidade da coisa pública. Desejaram e desejam que se instale no país, definitivamente, um programa efetivo de combate à corrupção, institucionalizada no país, uma verdadeira “praga nacional”. Querem uma reforma política profunda que extirpe privilégios da classe política e mandatos eletivos, considerados importantes fatores de desvio do dinheiro público e depredação dos cofres da nação. E o país entra em 2014 podendo imaginar uma sucessão de manifestações públicas que vão, nas ruas, exigir a moralidade sonhada. Muitos políticos parecem não terem entendido exatamente a dimensão das reivindicações. Por isso, um presidente do Senado Federal que tem a ”coragem,” aproveitando-se das festas de fim de ano para pegar um jato da FAB para fazer um implante de cabelo numa capital nordestina, soa mesmo como um acinte à sociedade. Políticos condenados que querem vida fácil e “tratamento especial” nas prisões também significam um desrespeito à moralidade pública E tantos exemplos pelo país afora.

Recentemente, um estudo realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias de São Paulo – citado pelo jornalista Manoel Moreira – deixa claro que os prejuízos econômicos e sociais causados pela corrupção no país, chegam à ordem de 150 bilhões de reais ao ano, levando-se em conta apenas os dados de denúncias conhecidas sobre desvios de dinheiro público. Outra pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/ONU revela que o tamanho do rombo aos cofres públicos no Brasil chega à incrível cifra de 200 bilhões de reais, dados de 2012. Uma vergonha nacional. Um crime contra a sociedade e a democracia.

Entre 180 países, o Brasil está na 75ª. Posição entre os mais corruptos, segundo relatórios da Transparência Internacional. Numa escala de zero a 10, sendo que números mais altos representam países menos corruptos, o Brasil tem nota 3,7. A média mundial é de 4,03 pontos.

Cabe aos brasileiros, em 2014, ano eleitoral, avaliar bem o que isto significa. Avaliar os prejuízos que tanta corrupção produz, as deficiências que a corrupção provoca nos setores fundamentais como saúde, habitação, infraestrutura, saneamento básico e programas e políticas sociais e educação. É preciso lembrar que os escândalos envolvendo roubo e assalto aos cofres públicos têm provocado poucas punições e o caso do Mensalão é uma grande exceção. Crimes tipificados pelo Código Penal, na parte que trata de crimes contra a administração pública (peculato, concussão, corrupção passiva, prevaricação) têm enchido o dia-a-dia dos brasileiros. As punições têm sido infelizmente raras, embora haja um esforço maior da Justiça em todo o país.

A questão tem sido motivo de enorme preocupação de juristas, os sérios, e raros políticos. Estamos em 2014 e o Brasil inicia mais um ano de eleições para a Presidência da República e renovação de mandatos nos executivos estaduais. Está mais do que na hora da população brasileira deixar de pensar apenas no seu bem estar pessoal, imediatista e fugaz, e pensar seriamente no país, em dar, pelo voto, sua contribuição real para que esta avalanche de  corrupção que inunda o país pelo menos, diminua, sensivelmente.

Caso contrário, seremos todos tragados por ela. E o pior são as justificativas do festival de corrupção que assola o país. Um amontoado de besteiras em nome de uma tal de … “governabilidade”. Nunca, em tempo algum, se viu falar que para a governabilidade ser mantida é preciso uma boa dose de corrupção. Esta bobagem sem limites só “serve” para o Brasil, onde a corrupção deslavada e acintosa se soma a uma já histórica apatia do povo, para colocar o país de joelhos e colocar em sérias dúvidas seu futuro.

Mensalões, mensalinhos, mesadões, mesadinhas se somam a incontáveis e intermináveis casos de desvio de dinheiro público pelo país afora, tudo, repito, em nome de uma tal de governabilidade.

2014 bem que poderia ser o ano em que a moralidade pública, um grande sonho dos brasileiros, possa, enfim, ser conquistada.

O presente e o futuro do país agradecem.